Iahweh Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar e o guardar.
–Gênesis 2, 15
Na sociedade moderna, muitas vezes temos uma visão desordenada do que é o trabalho. Pois, num mundo em que a ganância se tornou tão proliferada, às vezes entendemos o trabalho como meramente uma forma de vender sua vida e seu tempo em troca do básico que você precisa para sobreviver. Fatores como abusos psicológicos também contribuem para essa visão. E assim muitas vezes começamos a pensar que, se tivéssemos boas condições financeiras, não trabalharíamos pois o trabalho é algo ruim. No entanto, Gênesis 2, 15 deixa muito claro: o homem já trabalhava antes da queda. Pois nós fomos feitos para viver em amizade íntima com Deus. E, portanto, assim como Deus constantemente nos serve (dando-nos a criação, inspirando-nos, etc.), nós também somos chamados para servir a Deus por meio de nossos trabalhos. Assim, entendemos que o trabalho é parte natural e intrínseca da nossa vida—em outras palavras, o trabalho não é “algo ruim” como muito se coloca atualmente, mas uma oportunidade de servir a Deus (nesse sentido, esclareço também que não me refiro apenas ao trabalho formal assalariado, mas também a outras tarefas cotidianas).
No entanto, muitas pessoas, esquecendo-se de Deus e pensando apenas com a visão distorcida que descrevi, agem com má vontade em seus trabalhos. Cumprem suas responsabilidades—pois caso não cumprissem o sofrimento se tornaria muito maior—, mas cumprem sempre reclamando, tristes ou irados. Esse tipo de atitude é, no melhor dos casos, um desperdício das oportunidades que nos são dadas—pois, se lembrássemos que o trabalho existe, em primeiro lugar, para que nós sirvamos a Deus, não faríamos nada com má vontade. No pior dos casos, pode também ser uma forma de orgulho—uma vontade incisiva de não servir a Deus, mas a si mesmo.
São Bento, em sua Regra, dizia que um trabalho feito com má vontade traz punição em vez de recompensa:
No entanto, essa obediência será aceitável para Deus e prazerosa para todos apenas se a demanda for cumprida sem hesitação, atraso, indiferença, reclamações ou objeções. Pois a obediência que é oferecida aos superiores é também oferecida a Deus. […] se um discípulo obedece com má vontade e reclama—não necessariamente com seus lábios, mas até mesmo se tiver reclamado apenas sem seu coração—, então, mesmo que ele tenha obedecido, seu trabalho não será aceitável para Deus, pois Deus vê que o seu coração está reclamando. E assim, em vez de ganhar uma recompensa por seu trabalho, ele receberá punição por ter reclamado […].
–Trecho do Capítulo 5 da Regra de São Bento. Traduzido do original em inglês.
Mas, então, de que forma lidaremos com as partes ruins dos trabalhos modernos? Como lidar com os sofrimentos de um ambiente tóxico, ou de más condições financeiras, ou com falta de disposição, dentre outros muitos problemas que podem surgir? Como falei em minha postagem “Nunca se preocupe com nada”, ofereceremos nossos sofrimentos a Deus. Manter-nos-emos fiéis a ele mesmo nos momentos de dificuldade, pois assim como não há lógica um doente abandonar seus remédios, também não há lógica abandonarmos Deus nos sofrimentos. Os sofrimentos sempre irão existir nesse mundo—afinal de contas, vivemos em um mundo que foi corrompido pelo pecado. No entanto, podemos escolher se iremos usar os sofrimentos para nos corromper (e assim nos tornar similares àqueles que estão causando os sofrimentos), ou para nos santificar—para, acima de tudo, usar esses momentos para nos aproximar ainda mais de Deus ao aprofundar nossa fidelidade a ele.